quinta-feira, 30 de abril de 2009

… encontram-se muitas vezes as mesmas pessoas (3)

Já o tinha encontrado pela altura do Natal, época em que a sua entrada nem seria de estranhar, não fosse o seu fato de Pai Natal ser azul-bebé em vez de vermelho.
Hoje voltou a entrar no meu bus, com o mesmo fato, as mesmas barbas brancas e com uma pasta tipo-executivo pejada de autocolantes. Consegui ler um “Só há rapaz se a mulher o quiser”, qualquer coisa que começava com “Arrependimento”, várias imagens de santos e pequenas quadras. Sentou-se perto do motorista e iniciou um interessantíssimo monólogo sobre a comparticipação de dentaduras: “Pago ao Estado. Pago ao Estado pelos dentes de uma criança. A mãe que quer uma dentadura nova só tem de engravidar e tem os dentes de graça. A seguir aborta mas já não importa.” O tema saltou para o dinheiro (“a matéria-prima do Homem” como lhe chamou) e para a dificuldade que um homem tem em o esconder das mulheres: “Não o pode guardar na cama porque a mulher faz sexo todos os dias. Mesmo que esteja grávida.”
E depois saiu de rompante pela porta da frente.
O motorista pareceu aliviado, mas a viagem perdeu parte do seu encanto.

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