quinta-feira, 7 de maio de 2009

… consultam-se os horários

Sim, porque eles existem. Estão na net. Estão nas paragens. Estão nas cabeças dos clientes habituais. Mas nem sempre servem de grande coisa. Ou é porque está trânsito. Ou porque um carro mal parado na faixa do BUS atrapalha a passagem. Ou porque se está numa época especial, do tipo Páscoa ou Natal, que merece uma alteraçãozita de horário. Ou porque o motorista resolveu iniciar a viagem uns minutos mais cedo. Ou porque o motorista não tem o relógio acertado. Ou porque…
O certo é que o não cumprimento de horários resulta em duas situações possíveis e totalmente opostas:
  • chegar à paragem contando com mais uns minutos de espera e ter a agradável surpresa de ver o veículo em aproximação;
  • chegar à paragem na precisa altura em que apenas já só se pode dizer adeus ao bus e encontrar uma forma de mentalização rápida para os minutos de espera que ainda aí vêm.


terça-feira, 5 de maio de 2009

… ouve-se música

Mesmo que não se queira.
Há essencialmente três tipos de fontes sonoras: headphones, telemóveis e rádios portáteis.
Os primeiros são os mais comuns. Em quase todas as viagens há um ou mais passageiros com os ditos equipamentos enfiados nos ouvidos e com uma vontade imensa de partilhar o que estão a ouvir com os demais. O problema é que o som é sempre mau, mesmo que se consiga identificar uma banda da qual até se gosta.
Quanto aos telemóveis, não me estou a referir aos toques, que também existem sob forma musicada, mas que acabam por ser de curta duração. Estou a falar daquele estranho fenómeno a que já assisti mais do que uma vez e em que um indivíduo usa o telemóvel para ouvir música como se de uma aparelhagem se tratasse. Já constatei que os referidos indivíduos partilham algumas características: sexo masculino, boné de pala, péssimo gosto musical e, acima de tudo, um ar de antipatia tal que inibe quem quer que seja de os mandar parar com a barulheira.
Finalmente os rádios portáteis. Como não são propriamente práticos de transportar (ainda menos num autocarro onde ambas as mãos são essenciais para manter a posição vertical) nunca vi um passageiro com um destes equipamentos. No entanto, há alguns motoristas que, há falta de um auto-rádio no bus, se fazem acompanhar dos ditos equipamentos. A programação tanto pode abranger espaços noticiosos, como música popular, lenga-lengas religiosas ou mesmo a Madonna. Não vou dizer que me agrade, mas se serve para alegrar um pouco a jornada destes profissionais, até os consigo aceitar.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

… encontram-se muitas vezes as mesmas pessoas (3)

Já o tinha encontrado pela altura do Natal, época em que a sua entrada nem seria de estranhar, não fosse o seu fato de Pai Natal ser azul-bebé em vez de vermelho.
Hoje voltou a entrar no meu bus, com o mesmo fato, as mesmas barbas brancas e com uma pasta tipo-executivo pejada de autocolantes. Consegui ler um “Só há rapaz se a mulher o quiser”, qualquer coisa que começava com “Arrependimento”, várias imagens de santos e pequenas quadras. Sentou-se perto do motorista e iniciou um interessantíssimo monólogo sobre a comparticipação de dentaduras: “Pago ao Estado. Pago ao Estado pelos dentes de uma criança. A mãe que quer uma dentadura nova só tem de engravidar e tem os dentes de graça. A seguir aborta mas já não importa.” O tema saltou para o dinheiro (“a matéria-prima do Homem” como lhe chamou) e para a dificuldade que um homem tem em o esconder das mulheres: “Não o pode guardar na cama porque a mulher faz sexo todos os dias. Mesmo que esteja grávida.”
E depois saiu de rompante pela porta da frente.
O motorista pareceu aliviado, mas a viagem perdeu parte do seu encanto.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

… sabe-se que o banco de trás não é grande coisa

O último banco tem quatro lugares. Três deles são maus e um é aceitável.
Os dois da direita, por estarem localizados por cima de uma das gigantescas rodas do autocarro, implicam que se pouse os pés a um nível mais elevado. Ora pernas encolhidas = desconforto. A acrescentar a isto, é praticamente impossível sair-se do lugar encostado à janela, pelo menos sem incomodar os dois passageiros do lado.
Depois há o terceiro lugar a contar da direita. Fica mesmo alinhadinho com o corredor central, o que é excelente para se rebolar por ali fora caso o bus resolva travar de forma mais afincada. As vistas não são grande coisa: à direita um par de passageiros, à esquerda um passageiro e alguma distância para a janela e, em frente, ou mais passageiros ou o tal corredor vaziamente assustador.
Finalmente chegamos ao lugar aceitável. Fica do lado esquerdo mesmo junto a um depósito cuja utilidade desconheço. Para além de se conseguir ter os pés a um nível normal, ser relativamente fácil sair-se e ter-se a protecção do banco da frente contra travagens, o lugar presenteia-nos com um apoio para o braço direito. Ou para pousar o saco da ginástica. Para conseguir ultrapassar a sua condição de aceitável só lhe falta mesmo uma melhor suspensão. É que quando se anda de autocarro sabe-se que no banco de trás qualquer buraco ou lomba na rua não passa despercebido.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

… espera-se numa fila

E não se pense que esta é uma tarefa fácil.
Antigamente as filas faziam-se na direcção da porta de saída. Mais recentemente, e muito bem, alterou-se a direcção da fila de forma a não complicar a saída dos passageiros. Na altura da mudança, desenharam-se pés coloridos no chão para facilitar a transição. Entretanto os pés apagaram-se e as filas ficaram confusas. Há quem tenha adoptado a nova metodologia e se organize na direcção certa. Há quem mantenha a anterior estratégia, ou porque não se apercebeu da alteração ou porque está demasiado preso a tradições para ceder a tal ideia-mirabolante. Depois há os que chegam à paragem e, perante o cenário de filas que se formam em sentidos opostos, opte por se manter à distância e só avançar quando a porta de entrada se abre. O resultado nunca é bom, está claro, principalmente quando já se acumulou um número simpático de passageiros ansiosos por apanhar um dos poucos lugares sentados. Há sempre empurrões e antipatia e queixumes e eu estava primeiro e etc.
Não estou à espera que uma nova campanha de sensibilização para a formação-de-filas-de-espera-de-autocarros avance, até porque as pessoas não deixam de entrar por causa da confusão. Resta-nos esperar para ver quem vence: a-super-fila-super-tradição ou a neo-fila-menos-confusão.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

… sabe-se que a campainha é importante

No metro não há campainhas. As carruagens param em todas as estações e em todas as estações as portas abrem para deixar entrar e sair os passageiros. É desta forma, e também por não haver o factor trânsito, que o metro consegue cumprir os horários.
Ora no autocarro as coisas não são tão simples. O cumprimento dos horários está intimamente ligado à perícia do motorista em ir compensando acelerações na faixa do BUS com semáforos vermelhos e carros mal parados. É por isso que, no bus, as campainhas têm uma função tão importante: alertar o motorista para a necessidade ou não de parar na próxima paragem. É que quando se dá a combinação ninguém-premiu-a-campainha/ninguém-na-paragem-quer-entrar, o bus não pára e ganham-se preciosos minutos. As campainhas não são bonitas, têm um som desagradável e estão sujas, mas nada disso lhes tira o protagonismo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

… passa-se muitas vezes pelos mesmos sítios (2)

As minhas viagens de autocarro começaram no ano em que o Jacarandá do Largo do Virato morreu.
Em Abril de 2008, quando ainda não tinha folhas, pensei: fixe, vou assistir às etapas todas. Primeiro o castanho. Depois, por algumas semanas, o roxo. O verde também é bonito e mantém-se por longos meses. O problema é que os meses passaram e o castanho prevaleceu. A esperança de ver o roxo encolheu quando prenderam a árvore com uns cabos. Já mais para o final do ano, depois de mais de cem anos, a árvore deixou de estar lá. O Largo do Viriato ficou pequeno.
Achei simpático que plantassem rapidamente um novo jacarandá. Falta-lhe o tronco grosso. Faltam-lhe os 16,9 metros de altura. Falta-lhe a beleza. Faltam-lhe as qualidades para ser classificada como “árvore de Interesse Público”. Mas pelo menos a sequência castanho – roxo – verde vai continuar a preencher aquele trajecto.

(obrigada à minha mãe por me ter dado a conhecer o Jacarandá quando ainda era pequenina e, assim, ter podido assistir a muito arroxeares ao longo dos anos)